“Mamãe, aconteceu um acidente, só que tu não podes brigar comigo, porque senão eu vou chorar, e tu não gostas de me ver chorando, né?”
diálogos #89
Num dia desses estávamos lanchando, Nina sempre começa pelas frutas e já tinha comido duas. Perguntei:
– Queres mais fruta, filha?
– Não.
– Queres uma banana?
– Não. Ô, mãe, tu não ouviu o que eu falei?
– Ouvi sim.
– Tu perguntou se eu queria mais fruta e eu disse não, então por que tu perguntou se eu queria banana?
A mãe: 🤡
diálogos #88
Estou preparando um pão de abóbora com farinha de milho, e quando abro o pote com curry, Nina diz:
– Que cheiro bom!
Dou o pote pra ela ver e cheirar.
– É isso aqui, filha, curry.
Ela cheira e:
– Eca!
diálogos #87
Quando o balanço começou a ir muito pro lado, Nina me disse:
– Ai, o balanço tá indo muito torto! Que tortura!
pensando bem…
Convido a Nina pra ir dar um passeio mais tarde. Ela pede pra brincar de lavar as paredes da área externa aqui de casa. Aí diz que eu posso ir fazer a minha ideia, e ela vai fazer a ideia dela com o papai. Eu digo: “Boa, filha!”. Aí ela repensa: “Mas tu e o papai são diferentes, né. Tem coisa que o papai me deixa fazer e tu não deixa, e coisa que tu deixa eu fazer e o papai não deixa. Ele não deixa eu brincar disso, e tu deixa, então eu vou fazer contigo, mesmo”.
diálogos #86
Ontem, depois do almoço, a Nina pediu pro Jr ler pra ela. Ele ia fazer isso, mas disse que tinha uma mosca incomodando e primeiro ele queria matar ela.
– Mas não pode matar. Ela pode ser uma mãe.
O Jr me chamou, com lágrimas nos olhos pra eu ouvir também. Choramos os dois, haha. Fui conversar com ela, ele ainda emocionado.
– A mosca pode ser uma mãe, filha? Então não pode matar? Por quê?
– Porque ela pode ter filhinhos. Eles podem ser bebês, e não ter pai, aí eles vão ficar sem ninguém pra cuidar deles.
🥺❤️
diálogos #85
Seguimos na fase dos gibis: pra me informar que estava com fome, Nina chegou ao meu lado e me disse: “Escuta a minha barriga: ronc, ronc”.
diálogos #84
Nina tá numa fase grude com gibis. Quer ler ou que a gente leia vários todos os dias (temos em casa alguns que eram dos irmãos dela). Depois de eu ler uma historinha da Mônica, eu comentei:
– Ah, que história boba, filha. Não gostei.
Ela começou a mexer nos outros gibis e me disse:
– Então eu vou procurar uma mais razoável.
a ordem das coisas
Nina me perguntou:
– Quem era a minha mãe quando tu não eras nascida?
– Quando eu não era nascida tu também não eras nascida. Eu precisei nascer pra que tu pudesses nascer.
– Hã! Que engraçado!
chiu!
Nina e eu caminhávamos perto de casa, numa rua que estava bem calma. Passamos por um carro estacionado, de porta aberta, em que um homem parecia dormir. Ela comentou que ele estava dormindo, e eu falei:
– Pensa que delícia, filha, depois do almoço, com esse som de passarinhos, o barulho do vento mexendo as folhas das árvores, esse silêncio…
– Silêncio não, porque tu tá falando.
🤡
miudezas do caminho
Colher essas pitangas hoje me fez sentir feliz. Pitangas marcaram nosso inverno e nossa primavera no ano passado, os passeios que fazíamos sozinhos com a Nina perto de casa. Temos o privilégio de morar num lugar com bastante natureza perto, e para tirá-la – e tirar-nos – de dentro de casa (apartamento) um pouco, passamos a fazer essas caminhadas. A pandemia começou quando a Nina tinha acabado de fazer dois anos, e foi bastante simbólico pra gente conseguir caminhar com ela o que achávamos uma distância considerável pra ela percorrer sem colo. Caminhar sempre foi uma coisa muito nossa, muito representativa do que somos. E as pitangas surgiram nesse momento. A Nina amava encontrar e colher pitangas (depois amoras e goiabas também). Amávamos descobrir novos arbustos, novas fontes fornecedoras dessa frutinha tão linda e saborosa. Reencontrar as pitangueiras em flor e, agora, em fruto me deu uma sensação gostosa de ciclo, de recorrência, de presença e de resistência.